Um bom amante de café sabe que o
prazer da bebida se esconde nos detalhes. De um ponto de vista objetivo, as
complexidades que cercam a produção da bebida, os cuidados e procedimentos
quase rituais inscritos na trajetória do grão de café ate nossa boca enriquecem
o hábito de tomar o “vinho da Arábia”. E assim o conhecimento transforma nossa
percepção do que antes era apenas algo trivial, como continua a ser para outras
pessoas. De outro lado, se há enólogos, historiadores do vinho, há também
baristas, cafeólogos, que nos informam sobre a sofisticação do café, suas
curiosidades e sagas. Mas tudo isto é um elogio técnico apenas. É muito
provável que o significado pelo gosto do café não venha daí.
De um ponto de vista mais
subjetivo, é fácil ver como a pausa para o café se torna um momento agradável,
cheio de significados. Com seu poder estimulante, tomado sozinho favorece a
introspecção, as memórias, a escrita. Compartilhado entre amigos favorece discussões
bem humoradas. Os significados de algo tão cotidiano vão sendo construídos a
cada xícara.
Por fim, toda a elaboração desta
bebida marcada por lendas, tecnologia e prazer é transmitida ao paladar por
algo não menos especial neste contexto de significados: a xícara de café. É
comum que escolhamos uma caneca, xícara que pelo uso repetido se torne
predileta, representante oficial da “pausa para o café”. E mais uma vez, aqui,
recorremos à imagem do familiar, do valor que o hábito instituído naturalmente,
cuja imagem está alem do âmbito financeiro.
Daí para colecionar xícaras,
eleger as favoritas e separá-las num canto do armário é um passo. A vontade era
tanta que por muito tempo fui colecionador de um único item, com a permissão da
contradição expressa nesta idéia. De presente, ganhei o segundo passo para me
cercar das coisas que gosto. Com a permissão do clichê, “as primeiras canecas
de café a gente nunca esquece”. A origem é tudo que buscamos repetidamente em
nossos dias. Lembrar do começo, do ponto em que as coisas mudam, ganham
significados e se tornam muito importantes.
Assim foi meu início.
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